quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Zen budismo na vida e no trabalho


O zenbudismo pode significar uma fonte inspiradora para o paradigma

ocidental em crise bem como para a vida cotidiana. Isso porque o zen não é

uma teoria ou filosofia. É uma prática de vida que se inscreve na tradição

das grandes sabedorias da humanidade. O zen pode ser vivido pelas mais

diferentes pessoas, simples donas de casa, empresários e pessoas religiosas

de diferentes credos.

O centro para o zenbudismo não está na razão, tão importante para a nossa

cultura ocidental. Mas na consciência. Para nós a consciência é algo mental.

Para o zenbudismo cada sentido corporal possui a sua consciência: a visão, o

olfato, o paladar, a audição e o tato. Um sexto é a razão. Tudo se

concentra em ativar com a maior atenção possível cada uma destas

consciências, a partir das coisas do dia-a-dia. Possuir uma atitude zen é

discernir cada nuance do verde, perceber cada ruido, sentir cada cheiro,

aperceber-se de cada toque. E estar atento às perlambulações da razão no seu

fluxo interminável.

Por isso, o zen se constrói sobre a concentração, a atenção, o cuidado e a

inteireza em tudo aquilo que se faz. Por exemplo, expulsar um gato da

poltrona pode ser zen; também libertar os cachorros do canil e deixá-lo

correr pelo no jardim. Conta-se que um guerreiro samurai antes de uma

batalha visitou um mestre zen e lhe perguntou: ³que é o céu e o inferno²? O

mestre respondeu: ³para gente armada como você não perco nenhum minuto². O samurai enfurecido tirou a espada e disse:²por tal senvergonhice poderia matá-lo agora mesmo². E ai disse-lhe calmamente o mestre:²eis ai o inferno². O samurai caiu em si com a calma do mestre, meteu a espada na bainha e foi embora. E o mestre lhe gritou atrás:²eis ai o céu.²

O que a atitude zen visa, é a completa integração da pessoa com a realidade

que vive.

Deparamo-nos no meio de diferenças, compartimentando nossa vida. O

zen busca o vazio. Mas esse vazio não é vazio. É o espaço livre no qual tudo

pode se formar. Por isso não podemos ficar presos a isto e àquilo. Quando um

discípulo perguntou ao mestre:²quem somos²? respondeu apontando simplesmente para o universo: ³somos tudo isso². Você é a planta, a árvore, a montanha, a estrela, o inteiro universo. Quando nos concentramos totalmente em tais realidades, nos identificamos com elas. Mas isso só é possível se ficarmos vazios e permitirmos que as coisas nos tomem totalmente. O pequeno eu desaparece para surgir o eu profundo. Então somos um com o todo. Este caminho exige muita disciplina. Não é nada fácil ultrapassar as flutuações de cada uma das consciências e criar um centro unificador.

Há uma base cosmológica para a busca desta unidade originária. Hoje sabemos

que todos os seres provém dos elementos físicoquímicos que se forjaram no

coração das grandes estrelas vermelhas que depois explodiram. Todos

estávamos um dia juntos naquele coração incandecente. Guardamos uma memória cósmica desta nossa ancestralidade.

Depois, sabemos também que possuimos o mesmo código genético de base

presente em todos os demais seres vivos. Viemos de uma bactéria primordial

surgida há 3,8 bilhões de anos. Formamos a única e sagrada comunidade de

vida.

Ao buscar um centro unificador, o zen nos convida a fazer esta viagem

interior. É desnecessário dizer que tudo isso vale para todos mas principalmente para mim.

Texto de Leonardo Boff - Teólogo

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